porque uns sujeitos o obrigaram a pagar cerveja e doces numa confeitaria.

— Você é um palerma! disse a mulher. — Tome lá mil e quinhentos. Mas veja agora se também os vai comer de doce!



Desde a véspera, entretanto, que Amelinha não se despregava do lado de Amâncio, senão quando este dormia ou quando precisava ficar só; levou a costura para o segundo andar, e pôs-se a coser no corredor, assentada à porta do quarto do seu doente.

Uma esposa não se mostraria mais afetuosa; ao menor gemido do enfermo, corria logo para ele, sempre meiga, sempre desvelada. Procurava ajudá-lo a suportar a monotonia da moléstia; procurava animá-lo, distraí-lo, fazendo por ter graça, recorrendo, para o entreter, ao que sabia de mais espírito. Seu pezinho, leve e calçado de duraque, parecia não tocar no chão; seu rostinho, mimoso e fresco como um jambo, não se contraía ao fartum insalubre das variolóides.

E dir-se-ia que tudo aquilo não visava outro interesse que não fora a mesma caridade e a mesma dedicação. Nem uma queixa, nem um suspiro, nem um olhar, nem um gesto, que traíssem a esperança de recompensas futuras. Era o bem pelo bem.

O provinciano, muito desvigorizado com a moléstia sentia perfeitamente que os lúdricos impulsos, que dantes lhe inspirava a graciosa rapariga, iam-se agora destecendo e dissipando à luz de um novo sentimento de gratidão e respeito. A primitiva Amélia desaparecia aos poucos, para dar lugar àquela extremosa criança, àquela irmãzinha venerável, que lhe enchia o quarto com o frescor balsâmico