Nada, porém, ficava resolvido. A conversa turbinava em volta do mesmo assunto, sem descobrir uma saída.

Nini era a única que parecia não ligar a mínima importância a tudo aquilo; de olhos muito abertos, sonâmbula, ouvia em silêncio as conversas da família, apenas suspirando de espaço a espaço.

Não obstante, já uma noite estava a casa recolhida, quando despertaram alarmados com o baque de um corpo que, entre medonhos gritos, rolava pela escada do segundo andar.

Acudiram todos, num levante.

— Que era?! Que acontecera?

Nini, coberta de sangue, jazia estendida sem sentidos ao sopé da escada. Rolara vinte degraus a partira a cabeça em dois lugares.

Ia fazer uma visita ao seu esquivoso enfermo, mas no patamar da maldita escada perdera o equilíbrio e baqueara desastradamente.

Tomaram-lhe as feridas a pontos falsos, friccionaram-lhe o corpo inteiro com aguardente canforada e deram-lhe a beber cerveja preta.

Supunham, todavia, que amanhecesse morta. Foi o contrário: Nini melhorou muito de seus antigos padecimentos e apresentou uma inesperada lucidez de idéias, como há muito não possuía. — O choque fizera-lhe bem e não menos o sangue que derramou da cabeça, afiançou o médico.

Aquele trambolhão era uma providência!

À noite, conversou-se bastante a esse respeito; vieram as amigas de Mme. Brizard; choveram os comentários sobre Nini; citaram-se as anedotas correlativas ao fato, e Amâncio, que se achava então mais desembaraçado das pernas, entendeu de sua obrigação fazer uma visita à pobre criatura.