— Vá, mais uma fatia de pudim, insistia ele a tentá-lo.

— Não, não é possível, respondia o hóspede, limpando sempre o rosto com o lenço.

À sobremesa falou-se no velho Vasconcelos e mais no irmão. O negociante lembrou ainda as obrigações que devia à família de Amâncio, citou pormenores de sua vida no Maranhão; elogiou muito a província; disse que havia lá mais sociabilidade que no Rio de Janeiro, e acabou brindando a memória de seu benfeitor, de seu segundo pai.

Maria Hortênsia parecia tomar parte no reconhecimento do marido e, sempre que se dirigia ao estudante, tinha nos lábios um sorriso de amabilidade.

Carlotinha não dera uma palavra durante o jantar. Comia vergada sobre o seu prato e só ergueu a cabeça na ocasião de deixar a mesa.

Amâncio, todavia, não a perdera de vista.

Às sete horas da tarde, quando se despediu, estava já combinado que no dia seguinte ele voltaria com as malas, para hospedar-se em casa do Campos.

— É melhor... disse este — é muito melhor! Ali o senhor não pode estar bem; sempre é vida de hotel! venha para cá; faça de conta que minha família é a sua!

Amâncio prometeu, e saiu, reconsiderando pelo caminho todas as impressões desse dia.

Mais tarde, deitado na cama do Coroa de Ouro, com o corpo moído, o espírito saturado de sensações, procurava recapitular o que tinha a fazer no dia seguinte; e, bocejando, via, de olhos fechados, o vulto amoroso de Hortênsia a sorrir para ele, estendendo-lhe no ar os belos braços, palpitantes e carnudos.