Tinha a voz grossa, cheia de uu, e o lóbulo do queixo coberto de penugem negra.

Ao saber que Amâncio não ia com a intenção de tomar algum cômodo, mas sim para falar à Lúcia, retirou-se sacudindo os rins; e da sala o estudante lhe ouviu gritar ao criado "que fosse prevenir à senhora do Sr. Pereira de que aí estava um cavalheiro que lhe desejava falar!".

Lúcia mostrou-se no fim de meia hora, a pedir mil perdões por se haver demorado mais um pouco. Fizera toilette especial para recebê-lo e parecia muito lisonjeada com a visita.

Declarou, logo, que o achava mais gordo, de melhor fisionomia. — Abençoada moléstia, a dele!

E, em resposta ao que o rapaz lhe perguntava sobre aquela nova residência, elogiou muito a casa, o serviço. "Sempre era outra coisa! Nem havia termo de comparação entre esta e a de Mme. Brizard!"

Amâncio voltou-se todo na cadeira, considerando a sala. Uma rica sala, apesar de velha — grande, espelhada, cortinas de ramagem, consolos cobertos de jarras com flores artificiais de pena. A um dos cantos um piano antigo e no centro do teto de estuque, no lugar donde espipava o lustre, um grande escudo de cores, rebentando em cabecinhas de anjos.

Falaram logo sobre as novidades da casa de pensão de Coqueiro: a saída dos hóspedes, a morte do tísico, a mudança para Santa Teresa.

— Você ali está seguro!... disse Lúcia.

O estudante protestou com um gesto, em que já havia alguma coisa das revelações que pouco antes lhe fizera Paiva Rocha.

E, discutindo os amores de Amelinha, foram pouco a pouco empurrando a conversa para o verdadeiro motivo