Mas o Vasconcelos saltava-lhe logo em cima: Que deixasse lá o pequeno com o mestre!... Mais tarde ele havia de agradecer aquelas palmatoadas!
Assim não sucedeu. Amâncio alimentou sempre contra o Pires o mesmo ódio e a mesma repugnância. Verdade é que também fora sempre tido e havido pelo pior dos meninos da aula, pelo mais atrevido e insubordinado. Adquiriu tal fama com o seguinte fato:
Havia na escola um rapazito, implicante e levado dos diabos, que se assentava ao lado dele e com quem vivia sempre de turra.
Um dia pegaram-se mais seriamente. Amâncio teria então oito anos. Estava a coisa ainda em palavras, quando entrou o professor, e os dois contendores tomaram à pressa os seus competentes lugares.
Fez-se respeito. Todos os meninos começaram a estudar em voz alta, com afetação. Mas, de repente, ouviu-se o estalo de uma bofetada.
Houve rumor. Pires levantou-se, tocou uma campainha, que usava para esses casos, e sindicou do fato.
Amâncio foi único acusado.
— Sr. Vasconcelos! — gritou o mestre — por que espancou aquele menino?
Amâncio respondera humildemente que o menino insultara sua mãe.
— É mentira! protestou o novo acusado.
— Que disse ele?! perguntou Pires.
Amâncio repetiu o insulto que recebera. Toda a escola rebentou em gargalhadas.
— Cale-se atrevido! berrou o professor encolerizado a tocar a campainha. — Mariola! Dizer tal coisa em pleno recinto de aula!
E, puxando a pura força o delinquente para junto de si, ferrou-lhe meia dúzia de palmatoadas.