A festa correu sempre animada até as três horas da manhã, quando Amâncio convidou as senhoras a tomarem lugar à mesa. Ao desrolhar do champanhe ergueu-se este resolutamente e exigiu que o acompanhassem num brinde.

Abstiveram-se da bulha, e o estudante grupou em torno do nome inteiro de Campos todo o velho arsenal de retórica aplicável à situação. Em substância nada afirmou, mas a sua palavra sonora e cheia; as frases gorgolhavam-lhe dos lábios com essa verbosidade oca e retumbante que se observa nos filhos do Norte do Brasil, e que, aliás tem valido a muitos posição eminente na política. Aquela voz, estalada e aberta, ferindo as vogais, tinha um sabor muito picante de ironia, vibrava no ar como uma flecha selvagem e feria os tímpanos como um insulto em verso.

As damas interessaram-se pelo discurso e alguns homens o ouviram sem pestanejar. E todos eram de acordo que Amâncio estava talhado para o Direito e que havia de fazer "uma brilhante figura", quer na advocacia, quer na política, se por acaso abraçasse uma dessas carreiras.

— É rapaz de talento!... diziam já as senhoras cochichando.

— A mim comoveu tanto o demônio do moço, que chorei!... segredou uma quarentona de chinó, que passava entre os conhecidos por mulher de maus bofes.

E principiaram a olhar com certa submissão para o esperançoso Amâncio.

E, com efeito, o seu tipo nervoso e moreno de nortista, o seu modo sem-cerimônia de abrir muito a boca, mostrando num gesto de pasmo a dentadura, o desembaraço de sua gesticulação, sempre que entornava para dentro um pouco mais de vinho, e principalmente