quando mais precisava dela, havia de suportar a prosa lírica da Sr.ª D. Hortênsia!... "Que estava arrependida, que o adorava, que seria capaz de tudo por lhe dar um momento de ventura e que o esperava de braços abertos, logo que ele se achasse em liberdade."

Fosse para o inferno com as suas adorações! Diabo da pamonha! "Que o esperava de braços abertos!" Era quanto podia ser! Aquilo até lhe cheirava a debique! Aquilo parecia um insulto a sua desgraça, a sua terrível posição!

E chorava, o infeliz, chorava como se quisesse vingar nas lágrimas.

Depois da carta de Hortênsia, a vida se lhe fazia mais escura e mais apertada entre as paredes da sua prisão. Quase que já não podia aguentar a presença de Paiva, de Simões e de alguns outros colegas que lá iam. No meio das sombras, progressivamente acentuadas em torno dele, só a imagem tranquila e doce de sua mãe permanecia com a mesma consoladora suavidade; sempre aquela mesma carinhosa figura de cabelos brancos, aquele corpo fraco, vergado e tão mesquinho que parecia pequeno demais para sustentar tamanho amor.

— Minha mãe! Minha santa mãe! exclamava o preso, quando seu espírito, esfalfado pelas desilusões, precisava remancear ao abrigo morno e quieto de um bom pensamento.

— Minha santa mãe!