— Visto isso, porém, objetava Amâncio, quero crer que o mais acertado seria comprar uma carta na Bélgica ou na Alemanha, e mandar ao diabo, uma vez por todas, aquela peste de Medicina!

Ora, Medicina! Medicina servia para algum moço pobre que precisasse viver da clínica; ele não estava nessas circunstâncias. Era rico! só com o que lhe tocava por parte materna, podia passar o resto da vida sem se fatigar!... Por que, pois, sofrer aquelas apoquentações do estudo? Por que razão havia de ficar preso aos livros, entre quatro paredes, quando dispunha de todos os elementos para estar lá fora, em liberdade, a divertir-se e a gozar?!...

Mas uma idéia sustinha-lhe o vôo do pensamento; o vulto angélico de sua mãe vinha colocar-se defronte dele, abrindo os braços, como se o quisesse proteger de um abismo.

Ah! quanto empenho não fazia a pobre velha em vê-lo formado às direitas, numa faculdade do Brasil... Vê-lo doutor!...

— Doutor, hein?! repetia Amâncio, meio animado com o prestígio que ao nome lhe daria o título.

E ligava-os mentalmente, para ver o efeito que juntos produziam:

— Doutor Amâncio! Doutor Amâncio de Vasconcelos! Não fica mal! não fica! A mãe tinha razão. Era preciso ser doutor!

E quanto gosto, que prazer, não sentiria nisso a querida velha!... Oh! ele agora pensava em Ângela com muito mais ternura; nela resumia toda a família e tudo que houvesse de bom no seu passado. Só com a ausência pôde avaliar o muito que a respeitava e o muito que a estremecia. Ele, que não chorara ao despedir-se da mãe; ele, que algumas vezes chegou até a aborrecer-se