ir à noite pelas igrejas, embrulhado na sua sobrecasaca russa, apoiando-se à grossa bengala de cana-da-índia, os pés à vontade em sapatos rasos. Ajoelhava-se a um canto da nave, em cima das pedras, e aí permanecia longamente, a ouvir os sons lamentosos do órgão, com o rosto descansado sobre as mãos que se cruzavam no castão da bengala.
Às vezes chorava.
Seu estômago irritado já não queria os alimentos; era preciso enganá-lo de instante a instante com um pouco de noz-vômica ou carbonato de magnésia. Não se lhe podia suportar o hálito.
Quando recebeu a notícia de que a sua especulação falhara, estava no quarto, não conseguiu sair do lugar em que se achava. Uma onda vermelha subira-lhe à cabeça: os objetos principiaram a dançar-lhe em torno dos olhos; o chão fugia-lhe debaixo dos pés. Tentou ainda dar alguns passos, mas cambaleou e caiu afinal sobre as pernas embambecidas — como uma trouxa.
Morreu no dia seguinte.
A família ficou pobre. Foi preciso vender o melhor de dois prédios que restavam, para saldar as dívidas do defunto.
A viúva principiou então a tomar encomendas de costura e de engomagem.
Isso, porém, não bastava; era necessário, a todo o transe, que o menino continuasse nos estudos. Em tal aperto, lembrou-se a pobre mãe de admitir hóspedes; a casa que ficou tinha bastante cômodos e prestava-se admiravelmente para a coisa.
Vieram os primeiros inquilinos; arranjaram-se fregueses