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meça a existir com o ente que sente; porque a sensação começa a existir com o animal; e os objectos sensíveis são tão anteriores á sensação, como aos animaes; porque o fogo, a agoa, e mais elementos, de que o animal se compõe, existião antes de haver animaes nem sensação. Donde com razão parece que os objectos da sensação são anteriores á mesma sensação.

Porque as partes de qualquer essencia primaria nem singular, nem collectivamente, se podem considerar como coisas relativas; porquanto hum certo homem não he certo homem de certo homem; nem hum certo boi he certo boi de certo boi. O mesmo he de cada huma das partes; pois se não diz = certa mão de certo homem; porém a mão de certo homem: nem certa cabeça de certo homem; mas a cabeça de certo homem. Assim também acontece com as essencias secundarias; quero dizer, pela maior parte; por exemplo: homem não se diz de certo homem: nem boi de certo boi: nem páo de certo páo: bem que qualquer destas coisas se possa chamar propriedade de alguém. Destas he pois claro que não são relativas. Mas ha algumas outras essencias secundarias, sobre as quaes pode haver duvida; como por exemplo: a cabeça diz-se cabeça de alguem: a mão diz-se mão de alguem: e assim de cada huma das outras coisas semelhantes: de modo que estas com razão podem parecer ser do numero dos relativos. Se pois a definição que se tem dado de relativo he acertada, he muito difficil, ou impossivel o demonstrar, que nenhuma essencia ha do