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J. de Alencar
parecia-me poetica e o murmurejar triste das aguas do canal tornava-se-me agradavel.
Uma cousa, porém, perturbava essa felicidade; era um ponto negro, uma nuvem escura que toldava o céo da minha noite de amor.
Lembrava-me d’aquellas palavras tão cheias de angustia e tão sentidas, que pareciam explicar a causa de sua reserva para commigo: havia n’isto um quer que seja que eu não comprehendia.
Mas esta lembrança desapparecia logo sob a impressão de seu sorriso, que eu tinha em minh’alma, de seu olhar, que eu guardava no coração, e de seos labios, cujo contacto ainda sentia.
Dormi embalado por estes sonhos e só acordei quando um raio do sol, alegre e travesso, veio bater-me nas palpebras e dar-me o bom dia.
O meu primeiro pensamento foi ir