- Que tem com isso? - indagou ele. Venho buscar minha mulher.

- Quem é sua mulher?

- Sou eu - chorou a pequena. Sou eu, mas estou separada há seis meses dele, porque mamã disse que homem sem trabalho não é marido. Eu casei, não foi por gostar; foi porque o delegado obrigou. Burro!

- Desavergonhada!

- Mas que é isto? Você, menina, que idade tem?

- Quatorze, sim senhor, mas já sou maior e separada; e não vou, não vou, porque quero representar e ganhar a minha vida.

Deu uma rabanada e partiu para o palco, num bamboleio feroz de todo o corpo, enquanto o marido batia o pé, danado.

Neste momento, porém, apareceu o diretor.

- Não repares, filho. São as coristas novas. a reforma. Tudo voluntário, mas uma desorganização feroz.

- Sinto pelas outras e compreendo a miséria, o vício, o horror desses destroços precoces.

- Bonita frase! Anda daí, vamos tomar um grogue. Ó José, ponha esse marido lá fora...

E fomos tomar grogue gelado com algumas atrizes maduras e loucas de riso - porque os incidentes da reforma eram realmente alegres - enquanto o marido, empurrado pelos carpinteiros, saía aos trancos, praguejando...