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XII.

Enganei-me!... — Horrendo cháos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra,
Não póde vóltar atraz!
Amarga irrisão! reflecte:
Quando eu gozar-te pudera,
Martyr quiz ser, cuidei qu’era...
E um louco fui, nada mais!

XIII.

Louco, julguei adornar-me
Com palmas d’alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
Co’o que se chama ideal?
O meo eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausencia do mal.

XIY.

Pensar eu que o teo destino
Ligado ao meo, outro fôra,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deos ab eterno a fizera,
No meo caminho a puzera..
E eu! eu fui que a não quiz!

XV.

Es d’outro agora, e p’ra sempre!
Eu a misero desterro
Vólto, chorando o meo erro,
Quazi descrendo dos céos!
Dóe-te de mim, pois me encontras
Em tanta miseria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deos!