Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/28

XXIV

versão portugueza é mais curto; mas pondo de parte circumstancias que podiam ser supprimidas simplesmente, notaremos as seguintes differenças: a Bella-menina não vae a casa para ver o pae doente, mas sim pelo casamento d'uma irmã; o encanto do monstro não acaba por ella dizer que o quer para esposo, mas sim quando Bella-menina lhe dá um beijo.

Há versões populares d'este conto ou contos mais ou menos similhantes em diversos paizes; taes são o n.º 88 dos Kinder und Hausmärchen, de Grimm, e as indicadas por W. Grimm, vol. III, 152 ss., 329 s., a grega de Cypre, colhida por Sakellario e traduzida em allemão por F. Lebrecht no Jahrbuch f. rom. u. engl. Literatur, XI, 374-379 (nota a pag. 386), o conto masurico publicado por Toeppen: Die Rose (vid. R. Köhler em G. G. Anzeige, 1868. St. 35), o n.º 9 dos Sicilianischen Märchen de Laura Gonzenbach (vid. nota de R. Köhler no vol. II, p. 208 9), o n.º XXXIX da grande collecção de Pitré. Ora em pontos em que a nosso versão do Minho se afasta da de Beaumont aproxima-se d'algumas das outras versões o que prova que não deriva d'aquella. Assim o que motiva a ida da donzella a casa é o casamento das irmãs em Pitré, Gonzenbach, Grimm n.º 88. N'algumas d'essas versões o nucleo do nosso conto funde-se com outros elementos; assim na de Grimm, n.º 88, acha-se uma versão do nosso n.º XLIV; o conto acha-se assim alterado e a sua solução não se póde comparar com a das formas simples, como a nossa n.º XXIX, a de Pitré, n.º XXXIX, a cyprica, etc.

N'estas ultimas duas, o encanto quebra-se como na de Madame de Beaumont quando a donzella diz que acceita o monstro para marido; mas no antigo poema francez Le bel inconnu, publicado por C. Hippeau, ha uma forma da nossa tradição em que o encanto do monstro (aqui uma donzella) se quebra com um beijo que dá na bocca de Giglain, (v. 3150 e ss.) ora esta variante é, senão a mais antiga, como cremos, pelo menos tradicional e antiga no nosso conto.