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mens da malha que elles dão atraz de ti e em-no entanto, pilho-lhes eu a panella do arroz.» Assim fizeram; os homens deram atraz do lobo o a raposa metteu a cabeça dentro da panella, comeu o que poude e quebrou a panella; chegou ao pé do lobo:— «Como passaste, compadre?» — «Ora; deram com as malhas atraz de mim que estou morto de cançaço.» — «Olha pr’a mim; quebraram-me a cabeça que até estou com os miolos fóra.» Os miolos eram os grelos do arroz que tinha na cabeça.

O lobo disse-lhe que lhe deixasse lamber os miolos que eram muito bons. Depois ella disse-lhe: — «Deitemo-nos agora aqui um pouco que eu venho muito enfadada.» Ella deixou adormecer o lobo e foi tomar o afilhado, que era comer um cabrito.

Depois toparam um velho n’uma cozinha e disseram-lhe: — «Ó velhote, queres que nós vamos fazer uma boda?» Depois juntaram-se o lobo, a raposa e um coelho; o lobo devia de levar um cabrito, a raposa uma gallinha e o coelho a salsa. Assim fizeram. O velho foi o primeiro que chegou com um raminho de salsa e o velho atirou-lhe com um páo o matou-o; ao lobo metteu-lhe um espeto pelo c… e á raposa pegou-lhe pelo rabo e arrastou-a pelo borralho. Fugiram a raposa e o lobo e quando estavam longe, disse o lobo: — «Não vamos lá; o diabo do velho metteu-me um dedo tão quente, tão quente pelo c… acima que parecia um espeto quente.» Depois disse a raposa: — «Eu vou ver o que o velho faz; se elle estiver a dormir ainda lhe vamos pilhar a boda.»

Chegou lá á porta e o velho que tinha acabado de comer estava a limpar as barbas com um panno. Ella chegou ao lobo e disse: — «Olha, compadre; vamo-nos embora que o velho está a puxar por as barbas que nós que lh’a havemos de pagar, que nos ha de matar.» — «Pois vamo-nos embora.»

Vinham para casa e anoiteceu-lhes no caminho e viram a sombra da lua n’um poço. Disse então a raposa. — «Olha que ali n’aquelle poço está uma broa dentro; vamos tiral-a» — «Nós como é que havemos de fazer? — »