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pão e cozeram-no. Branca-flor ordenou ao creado que levasse os taboleiros de pão a seu pae e fosse sempre apregoando: — «Quem quer pão quente, quem quer pão quente!»

Maravilhou-se o rei quando viu tudo prompto e perguntou ao creado: — «Por aqui andou Branca-flor?» — «Nem eu vi Branca-flor, nem ella me viu a mim.» — «Pois bem; já que tivestes tanto poder, não te darei minha filha sem que tu me tragas para perto do meu palacio aquellas grandes pedreiras que se avistam acolá ao longe.»

Foi-se o creado muito triste e logo lhe appareceu Branca-flor e lhe disse: — «Nada te dê cuidado, mas que meu pae nunca saiba que sou eu que te valho.»

Pela manhã quando o rei acordou achou o palacio rodeado das pedreiras; então perguntou ao creado: — «Por aqui andou Branca-flor?» — «Nem eu vi Branca-flor, nem ella me viu a mim.» Disse-lhe então o rei: — «Ainda te não dou minha filha sem que primeiro tragas o mar para a frente do meu palacio.»

Appareceu Branca-flor ao creado e disse-lhe: — «Toma este vidro que contém sangue que eu agora mesmo tirei d’este braço; irás derramando gotas d’elle em volta do palacio e logo verás o mar rodeal-o; tem porém, muita cautela não deites nenhuma gota de sangue em ti, porque ser-te-ha isso muito perigoso.»

Andou o creado durante a noite deitando o sangue em volta do palacio e ao mesmo tempo via que o mar crescia, e quando ia a amanhecer, já o palacio formava uma ilha e Branca-flor mandava prender os navios ás janellas do palacio.

O creado quando andava deitando o sangue esqueceu-se da recommendação de Branca-flor e chegou o sangue a um dedo e logo este lhe caiu.

De madrugada, quando o rei acordou, viu feito tudo que tinha ordenado ao creado e então a rainha disse-lhe: — «Não é possivel que deixasse d’andar por aqui