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alface muito repolhuda e tu serás o hortelão; meu pae ha de perguntar-te: viram por aqui Branca-Flor? e tu responderás: se quer alface é a 20 reis cada uma.»

No mesmo instante tudo se transformou como Branca-Flor tinha ordenado. Chegou o rei e perguntou ao hortelão por Branca-Flor e elle deu a resposta que ella lhe tinha ensinado. Renovou o rei a pergunta e o hortelão dando sempre a mesma resposta.

Caminhou o rei para deante sempre em busca dos fugitivos e estes, quando viram que elle já ia longe, transformaram-se outra vez no que eram e partiram, sempre correndo. Quando iam já muito longe tornaram a avistar o rei e então disse Branca-Flor: — «Lá vejo outra vez o meu pae, mas não te dê cuidado isso; que os cavallos se transformem n’uma ermida; os arreios em altar, eu n’uma santa e tu serás o sachristão, que estarás á porta a tocar á missa.»

Logo tudo se transformou e o sacristão foi para a porta da ermida tocar á missa. Chegou o rei e perguntou: — «Viste por aqui Branca-Flor?» — «Se quer ouvir missa, estou a tocar a ella.» — «Não pergunto por missa, mas sim por Branca-Flor e por seu marido, que deviam ter passado por aqui a cavallo.» O sachristão respondia sempre o mesmo.

Entrou o rei na ermida; viu a santa e pareceu-lhe que ella se assemelhava a Branca-Flor, mas como nada mais soubesse partiu novamente em busca d’ella.

A ermida, o altar, a santa e o sachristão tornaram outra vez ao que eram e partiram correndo sempre com receio de serem encontrados. Mas o rei, que não descançava, avistou-os novamente e ella então disse ao marido: — «Que os cavallos se façam n’um mar, os arreios n’um barco, tu no barqueiro e eu serei uma tainha, que andarei saltando em volta do barco.»

Chegou o rei e perguntou ao barqueiro: — «Viste por aqui Branca-Flor? — «Se quer embarcar agora, é maré.» E a tainha sempre saltando, ora no bordo do barco, ora na agua.