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CONTOS POPULARES DO BRAZIL

aberta e fresca, que é o signal de sua virgindade; aquella cuja rosa estiver murcha terá o meu castigo.»

Depois, que o velho sahiu, o rei appareceu na sua casa, e D. Pinta o recebeu. Deixou-o na sala conversando com as irmãs, e foi para a sala de traz, e escondeu-se no seu subterraneo. O rei cançou de esperar, e, ficando tarde, foi-se embora muito zangado. No dia seguinte tornou a vir, e D. Pinta fez o mesmo; no terceiro dia a mesma cousa. Ahi fez mal ás duas suas irmãs, que appareceram pejadas, e cujas rosas ficaram murchas. O rei cada vez foi tomando mais raiva de D. Pinta, ao passo que mais se accendia o seu desejo, quanto mais ella o enganava.

Um dia ella se vestiu de moleque, e foi buscar favas na horta do rei, o qual a viu, mas não a conheceu, e, quando o soube, ainda mais desesperado ficou. Passou-se tempos e sempre o rei a ajuando.

Uma vez ella foi buscar lenha e o rei a encontrou no matto. Ahi ella disse: «Oh! como vem rei meu senhor tão cançado e tão suado! deite-se aqui, rei meu senhor!» E sentou-se no capim, fez collo e o rei deitou-se, e ella se poz a catar-lhe piolhos. Foi indo, foi indo até que o rei pegou no somno. Ahi ella, bem devagarinho, levantou-se, botou a cabeça do rei n'uma trouxa que fez com o chalé, e largou-se, foi-se embora a toda a pressa. Quando o rei acordou, que olhou em roda e não viu ninguem, ficou desesperado da vida. Passou-se. As irmãs de D. Pinta ficaram em ponto de dar à luz e deram. Ella, com medo de que o pai descobrisse a falta das irmãs, resolveu-se a ir engeitar os meninos no palacio do proprio rei.

Um dia, antes do pae chegar das guerras, preparou-se de negra com taboleiro na cabeça e os dous meninos dentro, fingindo eram flores, e foi vender no palacio. O rei, sem saber quem era, foi vêr as flores, e, quando descobriu o taboleiro, deu com os seus dous filhinhos. A negra disse: «Ahi ficam que são seus!…» E largou--