Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/169

— Arma-lhe um laço de fita.

Ao outro dia passou a pomba pelo jardim e fez a mesma pergunta; o hortelão respondeu-lhe, e a pombinha voôu sempre, dizendo:

— Pombinha real não cáe em laço de fita.

O hortelão foi dar conta de tudo ao principe; disse-lhe elle:

— Pois arma-lhe um laço de prata.

Assim fez, mas a pombinha foi-se embora repetindo:

— Pombinha real não cáe em laço de prata.

Quando o hortelão lhe foi contar o succedido, disse o principe:

— Arma-lhe agora um laço de ouro.

A pombinha deixou-se cair no laço; e quando o principe veiu passear muito triste para o jardim, encontrou-a e começou a affagal-a; ao passar-lhe a mão pela cabeça, achou-lhe cravado n’um ouvido um alfinete. Começou a puchal-o, e assim que lh’o tirou, no mesmo instante lhe appareceu a menina, que elle tinha deixado ao pé da fonte. Perguntou-lhe porque lhe tinha acontecido aquella desgraça, e a menina contou-lhe como a preta Maria se viu na fonte, como quebrou a cantarinha, e lhe catou na cabeça, até que lhe enterrou o alfinete no ouvido. O principe levou-a para o palacio, como sua mulher, e diante de toda a côrte perguntou-lhe o que queria que se fizesse á preta Maria.

— Quero que se faça da sua pelle um tambor, para tocar quando eu fôr á rua, e dos seus ossos uma escada para quando eu fôr ao jardim.

Se ella assim o disse, o rei melhor o fez, e foram muito felizes toda a sua vida.

(Porto.)