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como ella estava outra mulher, e que assim viveriam como Deus com os anjos. A mulher contente por se vêr agora feliz, e mesmo porque a féria chegava para mais, vae a casa da tia Verde-Agua agradecer-lhe o favor que lhe fez:

— Ai, minha tia, os seus dez anõesinhos fizeram-me um servição; trago agora tudo arranjado, e o meu homem anda muito meu amigo. O que lhe eu pedia agora é que m'os deixasse lá ficar.

A velha respondeu-lhe:

— Deixo, deixo. Pois tu ainda não viste os dez anõesinhos?

— Ainda não; o que eu queria era vêl-os.

— Não sejas tola; se tu queres vêl-os olha para as tuas mãos, e os teus dedos é que são os dez anõesinhos.

A mulher comprehendeu a cousa, e foi para casa satisfeita comsigo por saber como é que se faz luzir o trabalho.

(Porto.)




81. O COMPADRE DIABO

Um pobre jornaleiro tinha um compadre que era o diabo, mas elle não o sabia; veiu elle e disse-lhe:

— Tu és tão pobre! sabes que mais? lembra-me de te dar um grande campo para o trabalhares de meias commigo, com a condição que o que crescer para debaixo da terra hade ser para mim, e o que crescer para cima da terra hade ser para ti.

O jornaleiro acceitou o contracto, e foi trabalhar o campo e semeou-o de trigo. Nasceu muito trigo, que elle colheu no seu tempo, e disse ao compadre que fosse apanhar o que tinha crescido para debaixo da terra. O diabo só achou as raizes, e conheceu que tinha sido enganado pelo compadre. E disse: