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CONTOS

— Ridicula, é o que é.

— Ridicula, porque? É a sua unica fraqueza; no mais é tão direita e respeitavel!

— Pode ser; mas basta essa mania, que é irritante; eu só a tolero por causa de você.

— Você não se lembra do que ella faz pelos meninos!

— Mas podia deixar-se desse ridiculo de namorada sem ventura; uma cincoentona! E ainda se fosse bonita...

— Tambem V! Isso é já implicancia sua!

— Que quer? Irrita-me: tenho-lhe antipathia.

— Finja que não a vê, Pedro. Eu lhe relevo tudo, porque é boa, e é minha tia.

Pedro sentiu que essa conversa ia estragar-lhe o cochilo, e achou melhor não proseguir.

A esse tempo tia Lulú já transpuzera o portão, e depois de abraçar e beijar ca dos tres sobrinhos, que haviam corrido ao seu encontro, distribuia-lhes balas. As creanças, verificando que nenhuma tinha recebido menos que as outras, retornaram ao seu folguedo; e tia Lulú entreteve-se então a acariciar Dick, um cachorrinho de meia raça, que á voz da dona tinna abalado do interior da casa, e em alvoroço pulava em torno della, disputando ás creanças a sua vez de carinho. Tia Lulú estalidava os dedos, appellidando-o, contente de o ver contente e ancioso por ella; e por fim agachou-se para pôr a face ao alcance da cabeça do animal. Esquecia-lhe que os estouvamentos de Dick podiam amarrotar e sujar-lhe o vestido; e consentia deleitada em receber e retribuir as festas, tão calorosas como