— Queira sentar-se, disse benevolamente o commerciante ao mancebo.
E continuou a ler. A carta era pequena, mas n’aquellas letras arrevesadas e tremulas elle via um rosto, umas feições adoradas, e logo depois como nas tintas esbatidas e aereas de um sonho de convalescente, levantava-se uma figura de mulher ainda moça e vigorosa, ao pé de umas carvalheiras, e essa mulher estendia-lhe os braços e dizia-lhe de longe com uma voz entrecortada de lagrimas:
— «Ah! rico filho, rico filho da minh’alma!»
Arrancado d’aquella visão, o sr. Cerqueira dobrou a carta devagar com as mesmas dobras, abriu a larga carteira de marroquim vermelho e collocou-a com grande cuidado n’um determinado compartimento.
Em seguida levantou-se e pitadeando de novo:
— Olhe, o nosso guarda-livros vai espairecer até Buenos-Ayres, e creio que por lá ficará. Coitado! aquillo vai mal!... Quer o senhor occupar esse lugar n’esta casa?
O moço acceitou reconhecido, e ia a levantar-se quando um preto velho em mangas de camisa abriu a porta do escriptorio:
— O jantar está na mesa, nhônhô...