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CONTOS E PHANTASIAS
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Margarida, com o seu porte de soberana, o seu sorriso altivo e distrahido, a graça ondeante da sua gentil figura, recebia a todos com a mesma benevola indifferença.

Todos a contemplavam fascinados e quasi medrosos.

Ninguem se atrevia a dirigir-lhe finezas banaes: de tal modo o olhar d’ella sabia tornar-se glacial, logo que adivinhava a pretenção de um namorado na amabilidade um tanto desastrada de algum dos seus convivas provincianos.

— Não ha aqui um empregado chamado Eduardo de C.? perguntava um dia na sala a elegante filha do banqueiro.

— Ha. Um rapaz muito estudioso, muito concentrado, que desenha muito bem, acudiu espevitadamente d’alli uma menina que fazia as delicias das soirées de Vianna, pela sua voz de falsete sempre prompta a torturar os ouvidos do proximo. Conhece-o?

— Foi-me apresentado este inverno em Lisboa; respondeu Margarida.

E accrescentou mentalmente: — Quem me dera que elle aqui apparecesse! Como me distrahiria de tudo isto que me cérca.

Isto era uma duzia de cavalheiros da provincia acompanhados das suas respectivas esposas ou manas,