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CONTOS E PHANTASIAS
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Tinha uma infinidade de pequenas idéas que punha em pratica e de cada uma das quaes resultava um allivio para o doente: arranjava as almofadas, aconchegava as roupas do leito, dir-se-hia que a sua mão esguia, branca, um pouco secca, tinha o segredo de verter balsamo em todas as feridas de um corpo enfermo.

Na convalescença lia alto.

Escolhia muito bem os livros, tinha a maravilhosa intuição de todas as necessidades de um espirito adormecido, n’aquella dubia luz crepuscular da doença physica.

A sua voz vellada, sem grande sonoridade, tinha umas notas macias que entravam até ao fundo do coração e que o amolleciam docemente.

Ainda nos desgostos de familia, na hora das crises e das catastrophes era para ella que instinctivamente todos os braços se estendiam.

É que ella, com o seu passo miudinho, o seu ar sereno, os seus habitos methodicos, nem diante das maximas catastrophes perdia a placidez necessaria.

Uma das suas particularidades mais accentuadas era a repugnancia pelo barulho, pelo espalhafato, por todas as exterioridades apparatosas.

Andava, fallava, trabalhava, movia-se sempre devagarinho.

Lembro-me perfeitamente do quarto d’ella, como