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CONTOS E PHANTASIAS

Um moço, alto, elegante, bem parecido, muito fallador n’umas horas de expansão, muito concentrado n’outras horas, de bigode retorcido e triumphante, olhares que sabiam ser doces, e que eram quasi sempre altivos.

E, comtudo, que meigo que elle era para Bertha, espreitando-lhe os caprichos, conformando-se com as brincadeiras d’ella, trazendo-lhe bonitos, flores, cousas novas, delicadas, que ella não vira nunca, e que, no emtanto, vindas da mão d’elle lhe desagradavam instinctivamente.

É que tambem o primo tornara-se d’uma assiduidade irritante!

Primo para aqui, primo para alli, toda a gente gostava d’elle, para cada pessoa tinha um dito amavel, uma intenção delicada, uma lisonja habilmente escondida!

Tratavam-n’o por tu, era admittido nas festas intimas da familia, ia ao jardim apanhar flores, acompanhava a mamã ao theatro! Uma usurpação em fórma, uma usurpação revestida de todas as circumstancias aggravantes!

E depois usava essencias.

Bertha declarara com ar solemne e magestoso, que embirrava muito com o primo, porque elle cheirava a pat-chouly.

E ella que andava habituada aos aromas frescos