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Dir-nos-hão os poetas de hoje que ellas não existem, e, o que é peior, que ellas não puderam existir nunca.

Oh! é bem triste, é bem esteril a arte que só trata de rebaixar o que em nós é de mais elevada essencia, e só quer que vejamos a fatalidade brutal do instincto, onde viamos d’antes a fatalidade mais nobre do sentimento.

Não acreditemos o que elles nos dizem, porque na sua preoccupação exagerada do horrivel, elles mentem muito mais do que os outros mentiam na sua preoccupação exagerada do bello!

Estes reunindo todos os vicios e hediondezas que encontraram dispersos n’uma só figura, conseguem apenas crear... um monstro, um ser hybrido e infecundo que a ninguem aproveita!

Os outros synthetisando n’uma filha do seu genio as harmonias, as feições, os encantos, que estudaram e amaram em toda a natureza, conseguiram alguma coisa mais!

Crearam o ideal immutavel e eterno e ensinaram-nos a fitar n’elle os olhos da nossa alma, e a invocal-o como um consolo adoravel nas nossas horas de desalento e de agonia.

 
FIM