A ESCRAVA
169
N’um baile nas Laranjeiras,
Um moço que a namorou,
Depois de valsar com ella
Tão embeiçado ficou,
Que a pediu em casamento
Logo depois que valsou.
Tudo se fez num momento,
Pois não era um peralvilho
O moço: tinha futuro,
De outro ricaço era filho.
Que alegria, que festança!
Durante um mez que sarilho!...
Teve a noiva uma lembrança
Toda caridade e amor:
Minha carta de alforria
Pediu ao pae, meu senhor;
Mas elle não quiz passal-a,
E disse de máu humor:
— Desejas alforrial-a?
Mostras não ser sua amiga!
No dia em que essa mulata
A liberdade consiga,
Dá logo em mulher á tôa!
Não percas a rapariga! —
Hoje ainda me magôa
Tão injusta opinião;
A virgindade no corpo
10