A ESCRAVA
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N’um baile nas Laranjeiras,
Um moço que a namorou,
Depois de valsar com ella
Tão embeiçado ficou,
Que a pediu em casamento
Logo depois que valsou.

Tudo se fez num momento,
Pois não era um peralvilho
O moço: tinha futuro,
De outro ricaço era filho.
Que alegria, que festança!
Durante um mez que sarilho!...

Teve a noiva uma lembrança
Toda caridade e amor:
Minha carta de alforria
Pediu ao pae, meu senhor;
Mas elle não quiz passal-a,
E disse de máu humor:

— Desejas alforrial-a?
Mostras não ser sua amiga!
No dia em que essa mulata
A liberdade consiga,
Dá logo em mulher á tôa!
Não percas a rapariga! —

Hoje ainda me magôa
Tão injusta opinião;
A virgindade no corpo

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