A ESCRAVA
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Eu era bella! se o era!
Mais bella que sinhásinha!
Aquelles olhos travessos,
Aquelles olhos que eu tinha,
Neste misero destroço
Já ninguem mais advinha.
Un dia notei que o moço
Os meus encantos notou...
Não podem fazer idéa
Dos olhos que me deitou!
E desde aquelle momento
De outro modo não me olhou...
Confesso que um sentimento
Estranho, novo, suspeito,
Aquelles olhos malditos
Gerou-me dentro do peito,
E eu evitar-lhe, mesquinha,
Não pude o tremendo effeito.
Uma noite sinhásinha
Foi ao theatro; elle não,
Que, fingindo uma enxaqueca,
Se valeu da occasião...
Tinha a sua voz maviosa
Prodigios de seducção!
— Minha mulata formosa,
Nós somos ambos escravos...
Deus nos fez um para o outro: