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CONTOS BRASILEIROS


Tinha Abrantes agora
Fundos remorsos do viver de outr’ora.

Sim, quinze annos esteve
Naquella redondeza. Um dia, teve
Desejos de ir á capital do Estado,
Afim de espairecer o seu bocado,
E, indo ao theatro, viu num camarote
Uma linda mulher; impressionado,
Pretendeu dar-lhe um bote:
Subiu ao corredor dum intervallo...
Qual foi o seu abalo,
Reconhecendo nella,
Vista de perto, a pobre Margarida,
Que não lhe pareceu desenxabida!
Muito mais gorda, mas tamhem mais bella
Estava. O porte altivo e magestoso,
Languido o olhar vellado e mysterioso...
Tão formosa não era a propria Venus!...
Que singular acaso!
Sorpreso elle ficou; pudéra! — o caso
Não era para menos.

— Gosta della, doutor? disse-lhe rindo,
Um conhecido que passava. — Gósto.
— Não se lhe dava de a apanhar, aposto!
Anjo não ha mais lindo!
Pois bem: tire dahi o pensamento:
E’casada. — Casada? — Sim, casada!