ESCOLA DOS VELHOS
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Tinha muito dinheiro
E um palacete mobilado tinha;
Por isso, a viuvinha
Ali ficou de casa e pucarinha.

Elle amou-a devéras;
Não era um homem gasto,
Um coração cansado que repasto
Outr’ora fosse de paixões violentas;
Elle podia ainda
Perpetuar a raça dos Pimentas,
Levar longe o seu nome;
Mas aquella menina ingenua e linda,
Si a imperiosa fome
De um exigente amor satisfazia;
Estranha sansação lhe produzia;
Elle ficava contrafeito quando,
Os seus labios de purpura beijando,
O doce mel do amor nelles sorvia;
E pensava: — Estou velho, e certamente
Só me tolera porque sou, não rico,
Mas solicito, bom, condescendente;
Sinto que a sacrifico,
A consciencia diz-me que a deturpo,
E o logar de outro, menos velho, usurpo. —

Ora, um dia, o Pimenta
Foi avisado de que a sua amante,
De amor faminta e de prazer sedenta,
Tinha um amante que não era elle,
E pilhou-a em flagrante,