SEM BOTAS
Em tudo acreditava
O Lopes, bom rapaz, rapaz simplorio,
Que dos seus companheiros de escriptorio,
No velho Banco onde os pirões ganhava,
Era o divertimento, era o «pratinho»;
Não lhe pregavam peta, coitadinho!
Que lhe não parecesse uma verdade.
Mas, apezar de tanta ingenuidade,
Pezava-lhe a amargura
De não ter tido nunca uma aventura
Amorosa; lembrava-se com pena
De que não fôra nunca heróe de um drama
Nem mesmo de uma scena,
Em que entrasse uma dama
Por elle apaixonada,
Ou solteira, ou casada.
Mas uma noite o acaso, emfim, num bonde
Que elle tomára a esmo,
Por fugir ao calor, sem saber onde
Iria ter, nem mesmo
Que tempo no passeio gastaria,
Deparou-lhe a aventura cobiçada: