Sou pobre, sou muito pobre;
Não tenho nada, meu bem;
Mas o manto que me cobre
Ha de cobrir-te tambem.
E’ o meu sonho mais sonhado,
Donzella casta e louçã,
Ser hoje teu namorado,
Ser teu esposo amanhã.»
Calou-se o trovador. Silenciosa
Estava a noite amena;
Só se ouvia, amorosa,
Soluçar Philomena.
O namorado perguntou-lhe... em prosa:
— Tu não me respondes?... que silencio é esse?...
Porém, antes que a moça respondesse,
Gritou o Arruda velho: — Vae-te embora,
Grandissimo patife,
Si não queres que eu saia lá p’ra fóra,
E co’um cacete os ossos te espatife! —
Como que por magia,
Do trovador sumiu-se a sombra esguia,
De chapéo desabado,
Capa traçada, violão ao lado.
Como que por magia, Philomena
A janella fechou. — Aquella scena
Continuou no quarto da donzella,
Onde o zangado pae ralhou com ella.