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CONTOS CARIOCAS


O homem do violão, o namorado,
Num capote embuçado,
Que esta noite cantou pifias quadrinhas
Que aliás não são minhas,
Era eu! — O senhor? — Eu, em pessoa!
— Então aquillo era fingido? E’ boa!
— Outro meio não ha de conquistal-a...
— Pois, meu caro, arriscou-se a uma bengala!
— E’ por isso que venho prevenil-o,
Pois pretendo tranquillo
Levar por deante o plano astucioso.
O trovador ha de voltar; furioso,
O senhor fica... — Ficarei, descanse.
— Haverá tudo como num romance:
Prisão... correspondencia interceptada...
Paterna maldição... lagrimas... pranto...
Sua filha por mim será raptada,
E em casa honesta ficará, emquanto
Não se fizer o nosso casamento.
Mal se realize este acontecimento,
Iremos, eu e ella,
Morar numa casinha muito pobre,
Das de porta e janella,
Onde tudo nos falte e nada sóbre,
A não serem miserias e arrelias.
Affianço-lhe que ao cabo de alguns dias
Ella estará curada
De tanto romantismo. — Isso me agrada,
O velho respondeu, porque duvido
Que de outra fórma encontre um bom marido.