— É que naturalmente recolheu-se tarde.
— Reparei já que nunca me despeço de papai quando me vou deitar. Anda sempre fóra.
Augusta sorrio.
— És uma roceira, disse ella; dormes com as gallinhas. Aqui o costume é outro. Teu pai tem que fazer de noite.
— É politica, mamãi? perguntou Adelaide.
— Não sei, respondeu Augusta.
Comecei dizendo que Adelaide era filha de Augusta, e esta informação, necessaria no romance, não o era menos na vida real em que se passou O episodio que vou contar, porque á primeira vista ninguem diria que havia alli mãi e filha; parecião duas irmãs, tão joven era a mulher de Vasconcellos.
Tinha Augusta trinta annos e Adelaide quinze; mas comparativamente a mãi parecia mais moça ainda que a filha. Conservava a mesma frescura dos quinze annos, e tinha de mais o que faltava a Adelaide, que era a consciencia da belleza e da mocidade, consciencia que seria louvavel se não tivesse como consequencia uma immensa e profunda vaidade. A sua estatura era mediana, mas imponente. Era muito alva e muito corada. Tinha os cabellos castanhos, e os olhos garços. As mãos compridas e bem feitas, parecião creadas para os afagos de amor.