quanto pôde para absorver o espirito e esquecer a esquiva Margarida; era-lhe impossivel.
Um dia de manhã appareceu-lhe em casa o filho de D. Antonia; trazião-o dous motivos: perguntar-lhe porque não ia a Matacavallos, e mostrar-lhe umas calças novas. Mendonça approvou as calças, e desculpou como pôde a ausencia, dizendo que andava atarefado. Jorge não era alma que comprehendesse a verdade escondida por baixo de uma palavra indifferente; vendo Mendonça mergulhado no meio de uma chusma de livros e folhetos, perguntou-lhe se estava estudando para ser deputado. Jorge cuidava que se estudava para ser deputado!
— Não, respondeu Mendonça.
— É verdade que a prima tambem lá anda com livros, e não creio que pretenda ir á camara.
— Ah ! sua prima?
— Não imagina; não faz outra cousa. Fecha-se no quarto, e passa os dias inteiros a ler.
Informado por Jorge, Mendonça suppôz que Margarida era nada menos que uma mulher de lettras, alguma modesta poetiza, que esquecia o amor dos homens nos braços das musas. A supposição era gratuita, e filha mesmo de um espirito cego pelo amor como o de Mendonça. Ha varias razões para ler muito sem ter commercio com as musas.