Foi modesta e reservada a ceremonia do casamento. Andrade servio de padrinho, D. Antonia de madrinha; Jorge fallou no Alcazar a um padre, seu amigo, para celebrar o acto.
D. Antonia quiz que os noivos ficassem residindo em casa com ella. Quando Mendonça se achou a sós com Margarida, disse-lhe:
— Casei-me para salvar-lhe a reputação; não quero obrigar pela fatalidade das coisas um coração que me não pertence. Ter-me-ha por seu amigo; até amanhã.
Sahio Mendonça depois d’este speech, deixando Margarida suspensa entre o conceito que fazia d’elle e a impressão das suas palavras agora.
Não havia posição mais singular do que a d’estes noivos separados por uma chimera. O mais bello dia da vida tornava-se para elles um dia de desgraça e de solidão; a formalidade do casamento foi simplesmente o preludio do mais completo divorcio. Menos scepticismo da parte de Margarida, mais cavalheirismo da parte do rapaz, terião poupado o desenlace sombrio da comedia do coração. Vale mais imaginar que descrever as torturas d’aquella primeira noite de noivado.
Mas aquillo que o espirito do homem não vence, ha de vencêl-o o tempo, a quem cabe final razão. O tempo convenceu Margarida de que a sua sus-