Era uma vez um pobre mendigo, que bateu á porta d'uma humilde cabana a pedir esmola, para poder continuar a sua viagem. Mas não vendo, nem ouvindo ninguem, abriu a porta de mansinho e entrou no casebre; viu então uma pobre velhinha muito doente, que lhe disse:
— «Ai! não te posso dar nada, porque nada tenho.»
E foi-se embora o mendigo, voltando d'ali a instantes, a bater á mesma porta.
— Pelo amor de Deus! gritou a velhinha, já te disse que não tenho nada que te dar.»
— Foi por isso que eu voltei — disse em voz baixa o mendigo.
E, aproximando-se da velha carinhosamente, tirou do bolso, pondo-os em cima da meza, muitos bocados de pão e algumas moedas de dez réis, que lhe tinham dado depois de ter estado com a velha a primeira vez.
— Aqui te fica isto, santinha — disse-lhe elle affectuosamente, indo-se embora sem que a pobre mulher tivesse tempo de lhe agradecer.»
Não sabemos qual era o nome do mendigo; mas os anjos escrevel-o-hão no Paraizo, e mais tarde nós o viremos a saber.