Piloto era o mais intelligente e o mais affectuoso dos cães, e o infatigavel companheiro dos brinquedos das creanças da quinta.
Fazia gosto vel-o atirar-se ao tanque a agarrar o pau, que João lhe lançava o mais longe que podia; pegava n'elle, mettia-o na bocca e trazia-o á margem, com grande alegria do pequerrucho e da sua irmã Joaninha.
Esta brincadeira recomeçava vinte vezes sem cançar nunca a paciencia do Piloto. Depois eram corridas, festas, gargalhadas, saltos, até que o assobio do creado da quinta chamava o fiel animal ás suas obrigações: partia então como um raio, para escoltar as vaccas, que levavam aos pastos, e impedil-as de entrar no lameiro do visinho.
Quando o hortelão ia vender os legumes ao mercado, era o Piloto o guarda da carroça; e muito atrevido seria quem saltasse á noite a parede da quinta.
Uma vez deu prova d'uma extraordinaria sagacidade; um jornaleiro, que se empregava muitas vezes em levar saccos de trigo da quinta para casa, tentou de noite roubar um sacco.
Piloto, que o conhecia, não fez a menor demonstração de hostilidade emquanto o homem seguiu o