Os quatro viajantes puzeram-se a caminho. Ao cahir da tarde, ouviram um grito dilacerante, e viram uma raposa correndo a toda a brida com um gallo na bocca.
«Agarra! agarra!» bradou o pequeno ao cão.
E no mesmo instante o cão atirou-se atraz da rapoza, que, vendo-se em perigo, largou o gallo para correr melhor. O gallo saltando de contente disse a João:
— «Obrigado. Salvas-te-me a vida. Nunca me esquecerei. Aonde vaes tu?»
— Arranjar trabalho. Queres vir comnosco?
— «De boa vontade.»
— Então anda. Se te cançares, empoleira-te no jumento.»
Os viajantes contínuaram a jornada com o seu novo companheiro. Sentiram-se todos fatigados e não avistavam á roda nem uma quinta, nem uma cabana.
— «Paciencia, disse João, outra vez seremos mais felizes. Resignemo-nos hoje a dormir ao ar livre; além d'isso a noite está socegada, e a relva é macia.»
Dito isto estendeu-se no chão; o jumento deitou-se ao lado d'elle, o cão e o gato aninharam-se entre as pernas do burro complacente, e o gallo empoleirou-se n'uma arvore.
Dormiam todos um somno profundissimo, quando de repente o gallo começou a cantar.
— «Que demonio! disse o jumento accordando todo zangado. Porque é que estás a gritar?»
— «Porque já é dia, respondeu o gallo. Não vês ao longe a luz da madrugada, que vem rompendo?»