nas bonecas o que vês no mundo a que pertences!... Estás a aprender a copiar... Sempre este mundo!...»
Retirei-me da janella.
Durante uma semana vi muitas vezes repetida a mesma scena.
A boneca ostentava todos os dias novas galas, e havia dia em que se vestia tres e quatro vezes!
Ao que eu, porém, achava mais graça, era ao respeito com que a dona a tratava!
Chamava-lhe sr.a D. Luiza; dava-lhe excellencia; sustentava finalmente com a boneca um d'estes dialogos de senhoras da alta sociedade, em que se falla de tudo, sem se dizer coisa alguma.
Um dia, — estava eu de costas voltadas para a janella dos meus visinhos ricos — ouvi um grito de susto.
Era devido a um accidente, a que está sujeito quem anda de carro.
Voltára-se este, e a boneca caíra, ferindo a fronte na pedra da janella.
O primeiro movimento da pequena foi beijar e prantear a victima; vendo, porém, que a ferida havia forçosamente de deixar cicatriz, e lembrando-se de que só lhe bastava querer, para que lhe dessem outra nova, agarrou-a pelos pés e ia atiral-a com despeito á rua, quando mais perto de mim bradou voz timida e suplicante:
«Não atire!... Dê-m'a.»
Era a minha pequena visinha da casa pegada, de quem eu não déra fé até então.
Assim invocada, a menina rica franziu leve-