— Eu conheço aquella boneca!... — disse eu de mim para mim.
E, não podendo resistir á curiosidade, bradei:
— Ó Maricas!... Quem te deu a boneca?...
Foi ali a menina da visinha! — respondeu a pequenita, córando de prazer.
Era escusado dizer-m'o.
Maria pegara na boneca e voltára-a de face para mim. Não podia duvidar... Era ella; lá estava a mancha, o estygma cada vez mais visivel na fronte.
De tempos a tempos, nas raras horas de descanço, Maria entretinha-se com ella.
— Quem te viu e quem te vê!... — pensava eu.
Ás vezes, se Maria se descuidava e os irmãos lh'a podiam apanhar, que tratos que sofria a desgraçada!
Roçada por aquellas mãos, de que um carvoeiro se envergonharia, empregada como pella, submettida a torturas, era, ainda assim, singularissimo o aspecto da triste!
Dava ares d'uma duqueza que, por necessidade, houve sido levada a fraternisar com o povo.
A misera mudára mais uma vez de nome!...
De sr.ª D. Anna passara a ser sr.a Rosinha e tratavam-n'a por vocemecê.
Trajava vestido de chita, capote velho de panno verde e lenço na cabeça.
Era um prazer para mim o escutar as conversas, que Maria sustentava com a boneca.
Esta, umas vezes, representava o papel de mulher casada, e Maria, encarregando-se de perguntar e responder por ella, obrigava a pobre boneca a lastimar-se por estar tudo tão caro, por haver