buscou tornar mais aberto o processo de produção das tecnologias para ajudar a deixá-las mais livres e autônomas. Com isso, mesmo que não fosse explicita a intenção, acabaram por politizar as tecnologias — ainda que a partir de um ponto de vista branco e masculino, o que, nos últimos anos, tem trazido diversas discussões dentro do movimento hacker e do software livre e aberto[1].

A resposta destes Manifestos Cypherpunks aqui publicados pode parecer até ingênua em 2021, segundo ano de pandemia do Novo Coronavírus, quando todos estamos mais necessitados de conexão e troca de dados para sobreviver ao isolamento necessário para não contrair a covid-19. Não deixa, também, de trazer ecos do solucionismo tecnológico, ideia muito em voga hoje em governos e empresas como a forma (supostamente) mais fácil de solucionar um problema sem precisar fazer política. [É ainda necessário dizer: a ideia de que uma tecnologia vai resolver todos os problemas de modo “fácil” frequentemente ignora os aspectos sociais, políticos e econômicos envolvidos na ação humana e na construção de aparatos tecnológicos].

Mas, como você lerá a seguir, as ideias presentes nos Manifestos Cypherpunks são, além de um alerta, um enfrentamento ao conformismo, que rejeita o “é melhor você se acostumar com o fim da privacidade” e acredita que o espalhamento da informação e do conhecimento sobre como funcionam os sistemas técnicos como a criptografia são ainda necessários para a transformação social. Também abordam a criptografia não apenas trazendo o uso de softwares como a grande solução para a defesa da privacidade, mas com uma discussão que envolve

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  1. Sobre estas questões, publicamos, no BaixaCultura, dois textos a partir da declaração machista de Richard Stallman, criador do software livre e também representante dessa mesma cultura hacker, em https://baixacultura.org/ja-passou-o-tempo-de-repensar-o-movimento-pelo-aberto-livre/ e https://baixacultura.org/isso-nao-e-um-manifesto-aberto-e-livre-em-reflexao/.