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DA FRANÇA AO JAPÃO

do littoral, exclusivamente habitadas por pescadores e piratas e pelas autoridades civis e militares, as quaes, são compellidas a empregarem medidas violentas e arbitrarias para conter populações eivadas de todos os vicios, verdadeira escoria dos habitantes da China.

É nas cidades do littoral que refugião-se os foragidos do interior, é ahi que a raça chineza se cruza com a arabe e mesmo com a cafre; e, naturalmente, é nos portos do Imperio que recolhem-se os disfarçados piratas, de que já fallamos depois de suas correrias contra os navios de commercio, já para fugirem dos temporaes já para dissiparem qualquer suspeita sobre delictos que tenhão commettido.

Eis, pois, em que meio vive o estrangeiro ao chegar a China, e, não é neste abysmo fervescente de corrupção, que o viajante deve recolher os dados para julgar do estado moral e intellectual de um povo.

Accresce á influencia dessas falsas observações sobre o animo do escriptor, a má vontade com que os chins nos recebem, o que desperta em nosso coração, um sentimento pouco generoso ainda que de natural despique: — a antipathia por esse povo.

Esta repugnancia natural não deve, entretanto, guiar nosso juizo, quando tratamos de descrever os usos e costumes de uma sociedade, sob pena de faltarmos á verdade, por fraqueza de espirito ou intoleravel egoismo. Assim para, podermos conhecer os costumes dos chins, temos necessidade de investigar a razão de suas leis, a sua indole, e mesmo o fundamento da vida de familia, e sobre tudo, não devemos deixar-nos impressionar pelo que vimos nas cidades do littoral.

A historia de nenhum outro povo necessita da razão philosophica para ser commentada como a dos chins; entretanto, na massa d’esse povo não se encontrão homens de lettras e philosophos que confundão sua missão com quaesquer outros misteres.