DA FRANÇA AO JAPÃO
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tarde, quando os direitos dos homens se achavão muito mais regulados e definidos, que estes deoses, a nosso exemplo, justificassem suas relações.

Talvez que, algum leitor, severo em seus juizos, julgue pouco airosa nossa presença a este rendez-vous, entretanto, no caracter de conscienciosos sacerdotes, tinhamos necessidade de justificar o nosso apoio ás modernas innovações sociaes, provando a moralidade dos deoses já venerados pelos antigos povos, e que os poetas chamarão mythologicos.

Ora, a occasião era azada; Venus a mais formosa das deosas, seria o mais fraco baluarte da virtude; e bem determinadas suas relações legitimas com o dardejante Sol, qualquer outra divindade, menos bella, ficaria invulneravel da maledicencia.

Era pois, em busca da verdade, que partiamos; e se estas razões não satisfizerem ao exigente leitor ponderamos finalmente que, devendo ter lugar a entrevista no Japão, e visto sermos todos obrigados a adoptar os costumes dos paizes em que estivermos, não nos ficará mal o papel de terceiro em questão de amor.

Assim frustrada, qualquer accusação que se nos queira fazer, cumpre-nos confessar a satisfação e contentamento de que nos possuimos, entrando a bordo do Ava, um dos melhores paquetes das Messageries Maritimes, que devia suspender ancora, no dia seguinte, 19 de Agosto pela manhã.

Na verdade, estes paizes decantados, pelos poetas portuguezes dos seculos passados, aguçavão nossa impertinente curiosidade, e só um obstaculo de impossivel remoção nos forçaria a modificar nosso primeiro proposito.

Assim, algumas difficuldades, que apparecerão, forão valorosamente aplainadas, e no dia marcado, o Ava punha-se em movimento, levando-nos a seu bordo bem como a outros convivas á festa de Venus.

O Ava fazia então a sua segunda viagem ao Oriente; havia apenas dous annos que acabara de ser construido nos