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DA FRANÇA AO JAPÃO

sairo, que entrou logo no junco e mandou aos seus, que por serem muitos não entrassem mais que os que elle dissesse. E depois de andar vendo todas as particularidades do junco assim da pôpa, como da prôa, se assentou em uma cadeira junto com o toldo, e nos esteve inquirindo de algumas cousas particulares, que desejou saber de nós, a que respondemos conforme ao gosto, que nelle enchergamos, de que elle mostrava muito contentamento.

«Nestas praticas gastou comnosco um grande espaço, mostrando em todas as suas perguntas ser homem curioso, e inclinado a cousas novas; e se despedio de nós e do Necodá chim, que dos mais não fez muito caso; dizendo:

— Amanhã me ide vêr a minha casa, e me levai um grande presente de novas desse grande Mundo, por onde andaste, e das terras que tendes visto, e como se chamão; porque vos affirmo que essa só mercadoria comprarei mais a meu gosto, que todas as outras; e com isto se tornou para terra.

«E como ao outro dia foi manhã clara, nos mandou ao junco um grande paráó de refrescos, em que entravão uvas, peras, melões, e toda a sorte de hortaliça, que ha nesta terra; com cuja vista demos muitas graças e louvores a Nosso Senhor.

«O Necodá do junco lhe mandou pelo mensageiro algumas peças ricas, e brincos da China em retorno do refresco, e lhe mandou dizer que como o junco ancorasse no surgidouro, quando estivesse seguro do tempo, o iria logo ver a terra, e levar-lhe as amostras da fazenda, que trazia para vender.

«E ao outro dia tanto que foi manhã desembarcou em terra, e nos levou comsigo a todos tres com mais dez chins, os que lhe parecerão mais graves, e autorisados em suas pessoas, os quaes elle queria para o ornamento desta primeira vista, em que esta gente se costuma mostrar com muita vaidade.

Chegando nós a casa de Nautaquim, fomos bem recebidos delle, e o Necodá lhe deu um bom presente, e após isto lhe mostrou as amostras de toda a sorte de fazenda, que trazia;