DA FRANÇA AO JAPÃO
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os deoses titulares do Imperio para admittir um Deus desconhecido e amotinador, que guerrea a todos os outros sem querer compartilhar o poder? A divisão do Reino, uma guerra sanguinolenta entre os vossos subditos, a perda da vossa corôa, a inveja dos Reis vossos visinhos, aos quaes se juntarão todos os sacerdotes do Japão para vingar os ultrages que quereis fazer aos Kamis [1], aos Fotocas [2] e á gloria dos Pagodes; — taes são os resultados que deveis esperar, se não ordenais sem demora contra estes estrangeiros, inimigos da Religião e do Estado.

O Rei temendo que taes ameaças se realisassem, e pouco lhe importando os interesses de uma Religião, cujos beneficios desconhecia, revogou a permissão que dera aos Missionarios para livremente poderem pregar; e, sob pena de morte, foi prohibido aos Japonezes de abraçarem a Religião do Christo.

Depois de exercer a influencia que suas virtudes lhe dava, perto do Rei de Satsouma, e nada obtendo, S. Francisco Xavier partio para Firato, deixando aos cuidados de Paulo da Santa Fé o fóco de luz que tão brilhantemente já illuminava até o mais insignificante lugarejo da provincia de Satsouma.

Contão os padres Bouhours, Marini e outros que tratarão de tal assumpto, que o chefe dos bonzos europeos, como os japonezes denominavão o padre Xavier, obteve em Firato em suas prédicas o mesmo successo que ao principio em Satsouma e que ahi deixando o padre Cosme da Torre partio depois de pouca demora para Miako, capital religiosa do Japão, onde esperava instruir grande numero de néophytos. De passagem para Amangouchi elle prégou a palavra do Evangelho; porém, foi ahi mal recebido e perseguido ás pedradas pela população, que não podia comprehender, como um sacerdote consentia em trazer as vestes esfarrapadas sem nada pedir para si: tal era o luxo que ostentavão os bonzos desta rica cidade que assim habituarão o povo a julgar.


  1. Deoses do Japão.
  2. Deoses secundarios, inferiores aos Kamis.