126
DA FRANÇA AO JAPÃO

mais inconsiderada e violenta conducta, disse ao padre Xavier, que estava cançado com os vicios e as hypocrisias destes bonzos; e convidou-o a jantar em sua companhia, dizendo:

«É signal de distincção e de estima admittir alguém á minha mesa, porém comtigo, para mim será a honra se quizeres participar de meu jantar.

Ao que o padre Xavier respondeu inclinando-se para o chão o beijando o sabre do soberano japonez, o que é signal do mais profundo respeito, segundo os usos do paiz.

Durante o jantar, a que assistirão de joelhos toda a côrte japoneza e os cinco portuguezes, reinou a mais cordial harmonia entre o Rei de Boungo e o humilde servo de Deos, a quem aquelle confundia com a mais esquisita ceremonia o franca hospitalidade.

Dias depois desta explendida festa, foi o padre Xavier convidado a discutir sobre alguns pontos theologicos con os Bonzos entre os quaes distinguia-se o superior de um famoso mosteiro de bonzos, chamado Fucarandono, o que o Rei permittiu com a condição, porém, de que não se deixarião estes governar pelas más paixões, e não se lançassem ás injurias aos insultos quando vencidos pelo seu forte adversario.

Diante do Rei travou-se o combate e foi o nosso heroe quem primeiro elevando a sua sonora voz disse:

«Podereis sustentar que os magnificos quadros que vemos n’esta salla sejão obra do acaso?»

«Será fortuitamente que as côres cahirão sobre a tela e ahi traçarão estas figuras deliciosas?»

«A mesma cousa poder-se-hia dizer do um livro ou de todo outro trabalho dos homens? Não, sem duvida. E, se assim é, o universo é o mais bello dos quadros, o mais sublime de todos os livros. Ele revela pois um principio intelligente.»

Este argumento muito agradou aos Japonezes, porém os bonzos esforçarão-so em destruil-o, baseando suas objecções em que elle pecava pela base, pois não se podia comparar os effeitos da materia animada com os da materia inerte, e,