Santo Agostinho

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Quando a própria memória perde alguma coisa, como acontece quando esquecemos e procuramos lembrar, onde é que a procuramos, a não ser na própria memória? Se esta apresenta uma coisa por outra a rejeitamos até que nos ocorra o que buscávamos. E quando isto ocorre, dizemos: É isto! Que não diríamos se não a conhecêssemos, e nem a reconheceríamos se dela não nos lembrasse[1] (in CONFESSIONVM Liber XIII-X.19.28).


A ideia de recordar do verbo latino recordari está ligada a anamnese, lembrar de algo que já se sabia, o que leva a considerar o rememorar como evocar algo desconhecido à consciência e que estava armazenado no recôndito da alma; portanto, ensinar é fazer aprender, e aprender não seria mais do que rememorar.

Agostinho, porém, só admite a reminiscência associada à ideia de iluminação, por isso eterna e universal. Assim, afirma que os sentidos só possam comunicar verdades absolutas. Errados seriam os juízos interpretados pela razão a partir de meras percepções.

Agostinho via o sentido interior, como um juiz:


Assim dizemos que todo aquele dotado de sensação é melhor do que aquilo que o faz sentir, o que talvez nos levasse a conceder também que todo ser dotado de inteligência seria melhor do que objeto de sua intelecção, o que seria falso. Com efeito, o homem compreende o que é sapiência e, contudo, não é
  1. Quid? Cum ipsa memoria perdit aliquid, sicut fit, cum obliviscimur et quaerimus, ut recordemur, ubi tandem quaerimus nisi in ipsa memoria? Et ibi si aliud pro alio forte offeratur, respuimus, donec illud occurrat quod quaerimus. Et cum occurrit, dicimus: "Hoc est"; quod non diceremus, nisi agnosceremus, nec agnosceremus, nisi meminissemus.