- Aposto que nem sabe ler?
Ele parou um instante atônito. Estaria ela a brincar, já sabedora de tudo? Seria o caso de avançar e não gozar mais o prazer de ser conquistado. Mas Alda tinha uma expressão de tão velutínea piedade, que não hesitou na farsa.
- É verdade. Nem sei ler.
- Meu Deus! Um rapaz de vinte e dois anos que não sabe ler!
Os seus olhos nesse dia tomaram-se mais úmidos, e ao rebentar de uni onda na ponte ela se deixou positivamente cair no seu largo peito. Não tinha dúvida! A mulher amava-o como certas damas amam os impetuosos adolescentes das classes baixas; a criatura era uma nevrosada romântica. Decididamente estava de sorte.
No dia seguinte, à saída, Alda Pereira indagou:
- Ô Túlio, quereria você aprender a ler?
- A signorina paga o professor?
- Ensino eu mesma.
- Então quero. Onde?
- Vá à minha casa. Logo, à noite, às sete; é a melhor hora.
Ele arranjara um dólmã de brim, um capote comprido; comprara o lenço de seda e um chapéu desabado para aparecer com a cor local. E fora. A dama loura habitava, numa rua transversal à Lapa, uma casa elegante e discreta, com duas criadas apenas. Fizeram-no entrar para uma saleta de estilo moderno, em que os móveis eram incômodos