velha é que o deitava, que o cobria com a colcha limpa.
— Dorme, meu filho, dorme.
E ele dormia, dormia tão bem na sua cama, ao lado de sua mãe, na sua casa! Dormia bem mesmo, muito, sentindo o prazer indizível de estar dormindo.
De repente, porém, sentiu um estalo no ouvido. Acordou. O vagão estava cheio. Era de madrugada. O trem voltava cheio de operários. A manhã nascia lavada e cor de pérola. Os artífices bulhentos tinham resolvido acorda-lo, e um da roda, todo a gingar, com ar de desafio e de troça, batia-lhe palmas junto ao ouvido.
Armando ergueu-se, encarou-o.
— Estou incomodando, cidadão? chalaceou o outro.
O pobre rapaz recalcou a cólera, sorriu.
— Não, até me fez bem... Tirou-me um sonho!
E foi para a plataforma do vagão olhar os últimos vestígios de uma das suas noites. Que havia de fazer agora? O mesmo que fizera antes, a mesma miséria, a mesma infâmia, o mesmo horror. Nossa Senhora! Mas não haveria meio de ganhar a vida, de comer, de dormir, de viver? Não haveria quem tivesse piedade da sua atroz agonia?...
Sentou-se na escadinha, acabado. O trem continuava a galopar pelos campos dourados do sol nascente. A natureza abria em flor, ao beijo da madrugada. Uma corrente pendia entre o vagão em que estava e o outro vagão. Inconscientemente